segunda-feira, 4 de março de 2013

Doceiras de Goiás


Vila Boa de Goyas, Goiás Velho, Cidade de Goiás... Goiás.

Antes habitada pelos índios Goyazes, a atual Cidade de Goiás foi cenário de mineração do país, comandada pelo bandeirante Anhanguera. Pertencente à bacia do Rio Araguaia, o Rio Vermelho é uma atração dessa cidade histórica. Era a capital do estado até a década de 1930. Dizem que com a transferência da capital para Goiânia, a cidade ficou menos exposta à modernização, preservando sua arquitetura barroca e seu modo de vida. Em 2001, foi reconhecida pela UNESCO como patrimônio mundial. Fica a 300 km de Brasília e a estrada para lá é bem complicada... Mas, valeu a pena.

O que pretende-se aqui não é formar um guia turístico sobre o lugar, mas compartilhar as peculiaridades que mais me cativaram.

A vontade de conhecer essa cidade foi justamente por ela não possuir muita estrutura turística. São pouquíssimos os hotéis, restaurantes e lojas. Quem está na rua são os moradores e não turistas. Dessa forma, vejo o local como uma cidade histórica que ainda tem vida própria.




As casas ficam com as portas e janelas abertas. Você anda e acompanha o ritmo de vida desses moradores. Em uma casa a TV fica ao lado da porta que dá para rua (assim ninguém perde nada, nem a TV nem o que se passa na cidade...). 

É bem comum também encontrar placas de "vende-se doces" nas portas das casas. São mulheres que fazem doces cristalizados e os vendem em suas próprias cozinhas. Não precisa bater na porta (já aberta), nem avisar que está entrando... É só achar a cozinha e encontrar os doces expostos. A doceira virá até você.






A Praça do Coreto é cercada por uma farmácia (que não passa cartão), uma igreja, restaurantes e 2 cartórios locais. Há muitos anos são vendidos deliciosos picolés de frutas do Cerrado (R$ 1,50 cada) dentro do coreto.


Outra grande peculiaridade de Goiás é a morada de Cora Coralina. Não conhecia muito sua vida, nem seus poemas. Após visitar o museu Casa de Cora Coralina, parece que todo aquele aspecto aconchegante da cidade estava explicado. 
A casa também fica aberta todos os dias. Fui surpreendida não só pelo aprendizado que lá tive, mas, principalmente, pela emoção e paixão demonstradas pelas funcionárias do local. Entre explicações sobre cada cômodo da casa e sobre as vivências de Cora, poemas foram declamados, como se a autora realmente continuasse ali. 
Cora também fazia doces e a cozinha está lá, intacta.

"Minhas mãos doceiras...
Jamais ociosas.
Fecundas. Imensas e ocupadas."

Como o centro histórico é bem pequeno, parece que a imagem de Cora na janela de seu quarto o acompanha durante toda a estadia na cidade.



Conhecer essa cidade foi rever que outros ritmos de vida ainda são possíveis. E que os sentimentos, estejam expressos em doces ou em poemas, possuem diversas formas.

Queremos voltar em alguma Páscoa. É lá que se dá a procissão católica "Fogaréu". Fomos no carnaval e verificamos que já não havia mais vagas para a páscoa desse ano.


Vale muito conferir: http://www.casadecoracoralina.com.br/


Segunda chance para Brasília

O meu interesse pelo novo começou a partir da minha primeira mudança para Brasília, sozinha e com 17 anos. Foi uma grande mudança de vida, como uma abertura de muitas portas. Fiquei distante de tudo o que era familiar, e passei a encarar novos costumes e situações.
Morei os cinco anos no mesmo lugar e não conheci meus vizinhos. Esperava uma vida típica de cidades universitárias, mas me deparei com um ambiente de grupos pré-definidos, como a turma do ensino médio, da academia, do cursinho, da igreja... Em qual grupo me encaixaria?
A dinâmica profissional de Brasília atrai pessoas de todo o país. Elas chegam na cidade para trabalhar ou estudar, mas, por terem deixado família, namorados e amigos nas cidades de origem, voltam para elas na maioria dos finais de semana e feriados. Não se dão a chance de viver Brasília.
Essa foi a minha vida durante os primeiros anos aqui. Qualquer sobra de tempo e de dinheiro seria empregada para voltar para "casa". E quando não dava, nada em Brasília era bom, visto que na minha origem tudo era diferente, mais prático, mais fácil.
Dessa forma, a principal descrição que fazia da cidade, assim como muitas outras pessoas, era: Brasília é uma cidade fria, cheia de espaços vazios, sem ninguém na rua, com muita coisa a preencher.

Foi com essa caracterização na cabeça (e por outros motivos) que voltei para São Paulo. Dessa vez, a experiência do aprendizado também se expandiu muito, mesmo em pouco tempo, e isso merece uma outra postagem. Sinteticamente, achava que nunca mais voltaria para Brasília e, assim, estaria livre daquela frieza e solidão!

Peripécias da vida ou não, após 1 ano e 7 meses de vida paulistana, tive que voltar para a capital. Voltei com condições bem diferentes (mais madura, acompanhada, com mais recursos...). E essa segunda experiência de viver em Brasília me fez dar uma outra chance para a cidade. Tudo o que havia sido frustrante da primeira vez foi revisto para ser diferente agora. A lógica da cidade assusta sim, a dinâmica dos grupos ainda existe, e, o pior, a família ainda está muito distante. Porém, ao invés de querer sair daqui em qualquer oportunidade, passei a buscar viver Brasília.

Viver Brasília significa explorar as peculiaridades dessa cidade, que são tantas! Significa você criar laços com seus habitantes, seus grupos. Significa você não se limitar a rotina trabalho/estudo e ficar pensando só na sua origem, mas se abrir às condições daqui. Agora não penso mais em voltar para "casa", visto que minha casa é onde eu vivo. Foi com essas intenções em mente que passei a amar essa cidade e, hoje, tento ajudar os novatos na capital a encararem a vida aqui dessa forma.

Brasília pode ser fria se as pessoas não derem essa chance.

Esse primeiro post me ajuda a entender como a abertura ao novo é importante para melhorar nossas vidas. E, principalmente, que a mudança no olhar pode tornar novo qualquer coisa já vista.

                                      Céu de Brasília que tanto me fascina. Nunca vi nada igual.